O significado de Shinsei Kaihatsu é “Fazer exteriorizar a natureza divina de cada um”.
A missão da Associação de Judô Kenshin é, através das técnicas de Judô, buscar a harmonia dos movimentos, o equilíbrio do espírito e o controle emocional, superando as reações instintivas de revolta e agressão. Reconhecer no próximo um ser igual, respeitar e o ajudar a ele e a si mesmo a encontrar o caminho da verdade.
O Significado de Kenshin é “Busca do caminho da verdade”.
A prática do Judô Kenshin, tem o intuito de formar homens de caráter elevado, moralmente equilibrados e solidariamente envolvidos.
O sentimento de paz que deve nos habitar ao entendermos desde a fundação do Judô, por Jigoro Kano, a busca de uma técnica mais suave, menos lesiva e mais harmoniosa, desenvolvendo muito mais o sentido de aproximação através do esporte, do que uma técnica puramente competitiva em que alguém sempre tem que ganhar. Todos devem ganhar em aprendizagem, nossa visão é de que temos um único adversário constante que somos nós mesmos e não os outros, aos quais devemos aprender a amar
Manter os valores éticos do Judô, preservando sua pureza de técnicas suaves. Não devemos permitir que outras atitudes de diferentes técnicas de combate mais violentos, introduzam-se em nossa associação. O esporte agressivo, lesivo, de espetáculo que reaproxima os homens dos brutos e animais, não deve ser estimulado. A humanidade evoluiu suficientemente a ponto de se deixar vencer pela agressão.
O respeito ao adversário é consequência do reconhecimento do ser perfeito que nele habita. Graças a ele, o adversário, podemos aprimorar o nosso judô.
O espírito de paz, de não agressão, de não violência, é necessário para o desenvolvimento e compreensão das técnicas de judô. Paz no espírito significa um espírito sem ódio, sem temor que são máculas passageiras que nos induzem ao erro.
Por que surgem o ódio, o rancor, a inveja e o egoísmo?
Surgem do medo, da consciência da fraqueza do homem, da ignorância do homem ao esquecer que é um ser perfeito de origem divina, surgem porque o homem se esquece que Deus está em seu coração e olha por ele.
Aquele que tem Deus em seu coração, é forte e praticará o bom judô, pois tem a vida de Deus e é por ele vivificado.
O ódio, o rancor, a violência, o medo, o egoísmo e o pecado, são as ditas crenças errôneas. O odioso, o rancoroso, o violento, o medroso, e o egoísta, são pessoas que vivem na ilusão, nas trevas, não sabem que dentro de si habita a natureza superior, mas sim as fraquezas terrenas.
Fazer despertar e exteriorizar essa natureza é o método e o objetivo da associação Kenshin.
André Seiler Vaz
Aldo Segnini
Douglas Baltazar de Queiroz
Élcio Wakamatsu
Ian de Castro Lemos
Rodnei Akamatsu
Ronaldo da Cruz Silva
Ronaldo Parucker
Victor Nobrega Freitas - in memoriam
Walter Baxter - in memoriam
Alessandro Teixeira Lima
Alexandre A.Nogueira
André Moura de Oliveria
André Rebelo Silva
Augusto Stracieri
Bruno Stracieri
Cristiano Ueoka
Cristiano Mori
Daniel Ramalho
Danilo Palanycia Oliveira
Denis Augusto Afonso
Enio Ohara
Eric Hiromassa Ozaki
Felipe Costa Maio
Glauber Cabral Cavalcante
Hebert Weber de Pontes
Henrique Massahiro Ozaki
Henrique Pastrello
Janaina Holanda da Silva
Jarede Bezerra Claudino
Julio César Guerra Vieira
July Tiemi Morimoto
Marcos Honorato
Milena Castro
Patrícia Emi Yoshida
Paulo Kishi
Paulo Massahiro Kubo
Priscila Bassan
Rafael João Afonso de Araujo
Rogério Portela
Sérgio Chicalé
Tiago Henrique Pinheiro
Tomas Frare Mocruha
Willian Kanehiza Koh
Magro, de corpo pequeno, a barba de alguns dias, chinelo de tiras de borracha, fala mansa, pausada, de conversa interessante.
No início e ao final dos treinos, fazia uma pequena oração em silêncio, com todos os judocas sentados.
Costumava falar por não mais que cinco minutos, começando por elogiar sempre o empenho e a dedicação dos atletas e nos alimentar com dizeres sábios, aprendidos no despertar espiritual durante longos anos da prática do judô. Dizia que devíamos agradecer antes e depois da luta, pois era graças ao nosso oponente que aprimorávamos nosso judô. Sempre nos pediu gratidão e respeito aos seus faixas pretas e ao Dojô, nosso local do treino. Pedia que não nos esquecêssemos de cumprimentar nossos professores na rua, nossos familiares ao acordar e ao dormir. Dizia que não era grave esquecer de cumprimentá-lo, mas que ele se entristeceria se algum judoca não mostrasse boa educação e cordialidade aos professores da escola.
Humilde, sábio, demonstrava extremo respeito aos seus judocas. Quando falava para todos, nunca usava o pronome “vocês”, mas sempre, “senhores”. Todo dolescente para ele já era “senhor”, “senhora”.
Tinha dificuldade em chamar uma criança por “você”.
Sempre sereno, dono de si, seu riso era contido, comedido, como convém a um japonês.
Há golpes que são aplicados com dificuldade, conseguimos opor resistência e, muitas vezes, na brecha, conseguimos aplicar com sucesso algum contra golpe. Mas os golpes de Sensei Shibayama eram golpes de mestre. Suaves, rápidos, milimétricos, precisos, não possibilitavam contra golpes. Eram aplicados com profundo respeito e humildade, quase se desculpando por nos haver derrubado.
Embora rápido e forte o golpe, era sempre suave, prazerosa, o braço oposto à queda sempre seguro pelo mestre, talvez querendo suavizar o arremesso e chamar para si responsabilidade por alguma eventual dor infligida. Sempre dava um pequeno toque no ombro após a demonstração, num inconfundível gesto de agradecimento e humildade. Havia vontade de se ensinar o judô, mas sobretudo amor e respeito naqueles movimentos. Eram gestos simples mas que tinham a magia de causar profundo bem estar e paz espiritual.
Foi aluno do Sensei Kyuzo Mifune 10º DAN, considerado o melhor aluno do Mestre Jigoro Kano, fundador do judô. Ao abrir as portas para o ocidente a partir da Reforma Meiji em 1868, o Japão recebeu inúmeros estrangeiros que vieram para negociar ou lecionar nas universidades japonesas, então ignorantes nos conhecimentos ocidentais. Norte-americanos se interessaram pela nova arte marcial que estava surgindo e convidaram Jigoro Kano para ensinar judô nos EUA. O fundador enviou então Sensei Mifune e mais um aluno.
Mas, chegando lá, despertaram pouca atenção. O tempo foi passando e o dinheiro acabando. Mas quando acabava, o aluno sempre aparecia com algum. Curioso, um dia Sensei Mifune foi ver onde o aluno conseguia dinheiro. O rapaz participava de lutas de rua em que se oferecia dinheiro ao vencedor.
Sensei Mifune resolveu que aquele não era o método adequado à sua missão e não era certamente a vontade do Mestre Jigoro Kano. Fez então um desafio. Acendeu dez velas e desafiou os presentes a apagá-las com um só movimento sem tocar nelas. Ninguém conseguia. Ao final, Sensei Mifune, pequeno e magro para os padrões norte-americanos, descalço, apagava todas com um único movimento de um pé. No judô, este golpe chama-se Ashibarai (varrer com os pés). É fato que não consta nos livros da História do Judô. Foi contada pelo Sensei Mifune ao seu aluno Shibayama. Engraçada e folclórica, mas foi como o judô entrou nos EUA.
Sensei Shibayama era inteligente. Havia se diplomado em língua chinesa numa faculdade do Japão.
Quem foi judoca, nunca deixará de sê-lo. Sai-se do judô, mas o judô não sai de nós.
Certo de que os ensinamentos do Sensei Shibayama moldaram marcantemente o caráter de muitas crianças, jovens e adultos que hoje mostram a influência dos ensinamentos daquele sábio senhor em suas vidas. Centenas, talvez milhares de alunos passaram pela Academia nestes 60 anos de existência.
Certo de que os atuais Senseis elevam o nome da Associação de Judô Kenshin ao formarem não apenas o atleta, mas o ser humano sob os ensinamentos do Sensei Shibayama, calcados no respeito, amor, benevolência, disciplina e dedicação ao próximo. São pessoas que acreditam na excelência do ser humano e engrandecem o patrimônio espiritual do homem pela prática do judô.
Não ensinou apenas judô. O mais importante, ensinou como fazem os grandes mestres: sem palavras, pelo exemplo, mostrando seu amor e respeito ao próximo, aos discípulos e à academia.
Sensei Shibayama nos deixou em 4 de julho de 1999 aos 88 anos.
Sensei Shibayama veio do Japão com 24 anos. Nessa ocasião aperfeiçoou-se tanto nas técnicas de judô que seu objetivo era unicamente a vitória. A única coisa que lhe interessava era derrotar o seu adversário em cima do tatame ou fora dele, perder, jamais. Sua mãe pediu-lhe então que abandonasse o judô.
Triste foi trabalhar na lavoura apesar de um forte judoca sentia-se vazio, seu judô parecia não ter conteúdo, não ter significado. Apesar de agricultor trabalhando no cabo da enxada, a insatisfação o atormentava, “que judô é este que me faz sentir vazio? devia estar satisfeito comigo mesmo”.
Um dia aos 37 anos, trabalhando na roça notou que a terra parecia rejeitar a violência aplicada no cabo da enxada, ao contrário quando se esqueceu de si próprio e tornou-se um só com o instrumento, e seguiu o curso da enxada, (acompanhou o movimento da enxada), notou que o esforço necessário era mínimo, a enxada parecia obedecer-lhe sem que para isto precisasse aplicar muita força. Compreendeu então o sentido do “kuzushi”, (desequilíbrio), essência das técnicas do judô, usando-se o movimento, o deslocar-se do adversário, unindo-se ao movimento dele, o dispêndio de força energia é bem menor. Compreendeu o respeito e a não violência. Decidiu então fundar uma academia e recomeçaram os treinos de judô, a princípio sem dinheiro e agricultor na chácara da família Menck em Osasco.
Trabalhava na lavoura durante o dia e a noite, com sua família, tirava terra do barranco para fazer o tatame onde haveria de treinar, seu primeiro tatame no Brasil foi o barranco desmanchado por ele e sua família, forrado com um pouco de palha e coberto com uma lona. Vendo a grande força de vontade do jovem Shibayama, a família Menck e algumas famílias da colônia japonesa resolveram ajudá-lo e cobriram com um telhado a nascente academia Kenshin, cujo significado é “manifestação da verdade”, que funcionava a céu aberto, membros da colônia, chegavam a lamentar em tom de brincadeira que perdiam a única academia de judô que tinha o céu por telhado, corria então o ano de 1956.
Sensei Shibayama sempre quis ter uma academia melhor, mas o fracasso na lavoura era constante e nunca sobrava dinheiro, até que conseguiu após anos funcionando na chácara da família Menck, junto com seu genro Sensei Sadao Doi, Sensei Takatomo Yokote, Sensei Dr. Siokiti Takimoto, Sensei Walter Baxter, transferirem-se por um período nas instalações da Cobrasma no centro de Osasco realizando os treinos na quadra esportiva da fábrica, já neste período com a participação ativa do Sensei Paulo Fugio Fukushima, acabando por mudar a academia para a rua da estação onde por quase 25 anos permaneceu. Desde então, muitos atletas e muitos faixas pretas formaram-se no tatame e com os ensinamentos do Dojô Kenshin. Com o avanço do tempo, a área alugada na rua da estação estaria sendo desapropriada para novas obras, tendo a academia Kenshin, sem reservas financeiras, muito mais ajudando, sem ônus os atletas, do que cobrando mensalidades altas, ficado sem local nem destino para seus treinos, época em que a família Fukushima e o Sensei Takatomo Yokote orientados pelo Sensei Shibayama conduziam os treinamentos.
Em uma memorável reunião, estes diretores e fundadores, juntamente com os atletas mais assíduos, que amo rosamente enxergavam a missão social, educacional, desportiva do Dojô Kenshin, decidiram lutar e impulsionados por um grande espírito de união em torno de um ideal, empenharam-se, cotizaram-se e conseguiram comprar um imóvel a Rua Licínio de Castro, 75, nossa atual sede, (uma das poucas academias de judô que sem fins lucrativos, possui uma sede própria), ocasião em que pela primeira vez Sensei Shibayama agradecido chorou copiosamente, até providenciarmos a conclusão das obras para fazermos a mudança, os treinos eram realizados na residência do Sr. Jorge Fukushima, corria então o ano de 1989. Dez anos passaram-se e em 1999, nosso mestre e idealizador deixava no solo brasileiro seu instrumento físico, e passou seu ideal a habitar em nossos espíritos, através de seus ensinamentos, de suas palavras, de suas técnicas. Lutamos muito hoje por manter vivos estes ensinamentos, pois vivemos época em que os padrões de respeito, de dever, de honra, de humildade, de determinação estão distorcidos. Sabemos que vamos continuar, pois parece-nos muito clara a necessidade de que em cada criança que temos a honra e a confiança de recebermos, devamos depositar os valores profundos de respeito, de caráter, de dignidade, de união, de determinação, de convivência, de dedicação, de solidariedade enfim de amor ao próximo que Sensei Shibayama nos confiou.
Nestes dias recebemos jovens atletas que podem contribuir eventualmente, mas um número crescente de jovens que querem e tem potencial para treinar, dos quais muitos temos acolhido, nos procuram, sem condições financeiras. A Associação de Judô Kenshin tem como princípio o SHINSEI KAIHATSU = “fazer exteriorizar a natureza divina de cada um”, consiste em acreditar que o homem verdadeiro é aquele que habita o fundo de nossa alma, sendo incapaz de pecar e de praticar o mal.
No ano de 2017 a Associação de Judô Kenshin completou 60 anos de existência, formando cidadãos e atletas para o futuro.
“Não existem muralhas ou barreiras que me impeçam de atingir o meu ideal."
Sensei Sukeji Shibayama